Deus é um comediante atuando diante de uma platéia assustada demais para rir. Voltaire - (1869 - 1778)
"Jesus Cristo era filho de um pobre carpinteiro. Foi assassinado pelos ricos. Não tinha como dar em boa coisa" Karl Max

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Igrejas barbarizam outras religiões

28 ANOS DE INTOLERÂNCIA

Estamos completando 28 anos de intolerância religiosa. Tudo começou na década de 80, onde emissoras de rádio e programas de televisão começaram a destilar ódio contra umbandistas, contra católicos e contra membros de outras religiões. No Estado do Rio de Janeiro uma geração inteira nasceu e cresceu, sendo ensinada a ter ódio de espíritas, católicos e até dos verdadeiros evangélicos.

Nos últimos meses, tivemos casos de traficantes nas favelas, com fuzis, se intitulando neopentecostais, fechando os terreiros de Umbanda e proibindo qualquer tipo de manifestação referente às religiões afro-brasileiras. É evidente que de neopentecostal eles não têm nada, porque eu não acredito que um evangélico vá utilizar um fuzil para fechar um templo.

O episódio mais recente de intolerância religiosa não sai da nossa memória. No dia 04 de junho, quatro jovens da Igreja Evangélica Geração de Jesus Cristo invadiram e depredaram um Centro Espírita, localizado no bairro do Catete. No dia seguinte ao episódio, um homem chamado Tupirani Hora Lores, que se auto-intitula pastor disse que não tinha nenhuma ligação com o episódio. O Sr. Tupirani é pastor da Igreja Evangélica Geração de Jesus Cristo.

Entrei no site do pastor Tupirani (www.ogritodameianoite.spaces.live.com) e de ponta a ponto é ódio, ódio e mais ódio contra católicos, espíritas, umbandistas, candomblecistas e até evangélicos que não comungam com a igreja dele. No site, ele se referia à Igreja Católica como "prostituta católica". Ele também se referia a outras instituições como "prostitutas espirituais". O pastor Tupirani também estimula os jovens a tomarem uma medida contra aqueles que adoram santos. Está tudo no site.

Uma coisa é agredir alguém com palavras, o que já é ilegal. Outra coisa é quando esse ódio se manifesta numa pedra que é lançada contra um Centro Espírita ou quando alguém começa a chutar uma santa na televisão.

A sorte é que a tendência natural dos umbandistas, dos católicos e dos verdadeiros evangélicos, é uma postura de paz, quase que de compreensão. Acho muito difícil que isso acontecesse, por exemplo, numa mesquita ou numa sinagoga. Eles não fariam isso em Jerusalém, no Irã ou no Iraque. Aqui eles pensam que é fácil, pois os umbandistas são compreensivos; os católicos não tomam nenhum tipo de atitude e os presbiterianos, adventistas, metodistas e batistas não são capazes de cometer uma agressão. Mas eles como qualquer outros que venham agredir um centro ou um terreiro, podem ter certeza que serão processados e que a cadeia os aguarda. Nós não deixamos passar em branco. Estamos usando todos o artifícios legais para que eles respondam criminalmente pelo o que fizeram.


UMBANDISTAS PEDEM AJUDA À BELTRAME


O vereador Átila Nunes Neto e o deputado Átila Nunes reuniram-se com o Secretário de Segurança José Mariano Beltrame, o Chefe do Estado Maior da PM, Cel Antonio Carlos David e o subsecretário de Polícia Civil, Ricardo Martins. O principal objetivo do encontro foi pedir ajuda das autoridades de segurança no sentido de evitar que os centros de Umbanda e Candomblé continuem sendo perseguidos por fanáticos religiosos nas comunidades do Rio de Janeiro.

Durante o encontro, o vereador Átila Nunes Neto lembrou que "há qualquer momento pode acontecer uma tragédia, já que criminosos que se auto-intitulam pastores, estão obrigando os dirigentes a fecharem as portas de seus terreiros, sob alegação de que os centros espíritas são coisa do demônio". Átila Nunes Neto também comentou sobre as denúncias que vem sendo registradas todos os dias no 'Disque Intolerância'. "Recebemos, em média, 70 ligações por dia, de pessoas denunciando que são vítimas de preconceito religioso. Mantemos a identidade de todas as pessoas sob sigilo, para que elas não sejam alvos de fanáticos", disse o vereador.

Átila Nunes Neto também chamou atenção para o fato que essa violência religiosa vai sair dos morros e alcançar os centros umbandistas dos demais bairros. O parlamentar acha fundamental que todos os policiais civis e militares tenham conhecimento dos dispositivos constitucionais que garantem o livre exercício de culto, para que quando algum umbandista vá registrar uma queixa, seja levado em conta que não apenas o Código Penal está sendo infringido, mas também, a Constituição Federal. "Todas as pessoas que forem vítimas de algum tipo de discriminação religiosa podem fazer a sua denúncia através do telefone 2461-0055. O serviço funciona 24h por dia", lembra o vereador.

Além do encontro com as autoridades de segurança, o vereador Átila Nunes Neto e o deputado Átila Nunes, também ingressaram com uma denúncia no Ministério Público contra o auto-intitulado pastor Adão José dos Santos, fundador da Igreja Pentecostal dos Milagres que afirma "converter" bandidos, os mesmos aliás, que com fuzis em mãos, estão fechando terreiros nas comunidades carentes do Rio de Janeiro. A denúncia feita pelos parlamentares foi motivada após a publicação de uma série de reportagens no jornal Extra do Rio de Janeiro denunciando as perseguições religiosas. De acordo com a matéria, o "pastor" estimula as invasões aos centros umbandistas e de Candomblé através dos traficantes, incitando o ódio religioso.

DENUNCIADO AO MINISTÉRIO PÚBLICO PASTOR QUE ATACA CENTROS

Nesta última 2a feira, no início da noite, o Centro Espírita Cruz de Oxalá, no bairro do Catete, Rio de Janeiro, foi invadido e depredado. Quatro pessoas, acusadas do ato de vandalismo, foram presas por policiais militares do 2º BPM (Botafogo). Os detidos são membros da Igreja Geração de Jesus Cristo. De acordo com os PMs, os jovens disseram que as imagens estavam com o demônio. Por isso, eles resolveram quebrá-las - contou um dos policiais.

A invasão ao centro espírita, na Rua Bento Lisboa, 146, ocorreu por volta das 18h. Cerca de 20 pessoas aguardavam do lado de fora a abertura do templo e o início da sessão espiritual. Segundo Cristina Moreira, uma das dirigentes do centro, foi nessa hora que as quatro pessoas - três homens e uma mulher - chegaram com atitudes e palavras agressivas. "- Depois de ofender as pessoas que estavam na fila, eles nos obrigaram a abrir a porta e invadiram o centro. Em seguida, quebraram todas as imagens de santos, mesas e cadeiras - disse Cristina. "" Deus mandou a gente aqui para tirar o demônio de vocês "

O deputado Átila Nunes, membro da Comissão de Combate à Discriminação da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro e Átila Nunes Neto, coordenador do Movimento Em Defesa da Umbanda, ingressaram IMEDIATAMENTE com uma representação denúnciano Ministério Público contra o "pastor" responsável pela Igreja Geração Jesus Cristo, em razão de estimular o ódio religioso.

O telefone do Disque Intolerância Religiosa funciona 24 horas: 21-24610055


OS TALIBÃS DO RIO DE JANEIRO


O fanatismo religioso na maioria esmagadora das sociedades surge e se desenvolve em lugares onde se destaca uma população de pouca cultura e de poucos recursos. O fanatismo não é privilégio de uma única religião. O encontramos ao longo dos séculos, quando em nome de uma utopia teológica, religiosos se afastam do restante da sociedade e declaram guerra aos que se recusam a segui-los em seu sonho (ou pesadelo) religioso insano. Os conflitos com as autoridades são inevitáveis. A não ser quando o Estado passa a ser uma extensão desses movimentos fanáticos, resultando invariavelmente em genocídios.

Como explicar que em pleno século 21, uma era de progresso tecnológico e de avançada inteligência, podem sobreviver seitas de fanáticos que descarregam tanto ódio contra os que não acompanham seus pensamentos? O que causa tamanha intolerância nessa gente em relação ao restante da sociedade que se recusa a crer no que crêem? Se compararmos o fanatismo medieval que levou milhares às fogueiras da Inquisição com os tempos de hoje, observamos que a diferença é que aqueles só reagiam com violência quando provocados. Já as seitas de fanáticos contemporâneos agridem, sem serem agredidos.

Não existe qualquer diferença entre os fanáticos dos outros países com os daqui do Brasil. Quando criminosos travestidos de pastores, carregando armas "benzidas", expulsam chefes de terreiros umbandistas dos morros e perseguem moradores nas vielas das favelas, porque usam fitinhas do Senhor do Bonfim amarradas ao pulso, estamos diante do embrião da polícia religiosa do Afeganistão que caça e chicoteia os que não comungam com os princípios do Islamismo.

O que ocorre hoje no Rio de Janeiro (e não duvido que em outras capitais) é a exaltação de grupos de fanáticos, por ignorância, por dinheiro - ou ambos – que professam ações violentas contra outros cidadãos, retirando-lhes o direito sagrado da liberdade de pensamento e, às vezes, de sua integridade física. E fundamentam-se na intolerância e na fé insana da verdade única, a deles, que consideram incontestáveis. No recém criado "Disque Denúncia Intolerância", no telefone 24610055 sucedem-se queixas de espíritas, umbandistas, candomblecistas, católicos e até, pasmem, evangélicos – os verdadeiros -, cansados dessas ações intolerantes que denigrem os princípios cristãos. Não é de hoje que alguns fanáticos de "seitas eletrônicas" ofendem e atacam outras religiões, inclusive a majoritária fé católica. O episódio da imagem da Santa que recebeu pontapés na TV está na memória de todos.

Mais do que o Secretário de Segurança do Rio, seguidores de todos os credos, particularmente nós, somos as maiores vítimas desses fanáticos. Aguardamos um pronunciamento enérgico do governador, autoridade máxima do nosso Estado. Não se trata mais de uma simples questão religiosa. É uma questão com reflexos profundos na liberdade dos cidadãos fluminenses. A ignorância gera o preconceito. Que gera a discriminação. Que resulta no racismo. Não é possível que não continue servindo de exemplo o genocídio judeu


UMA LINHA EM DEFESA DA NOSSA CRENÇA

Ao tomar conhecimento sobre a perseguição que traficantes auto-intitulados pastores evangélicos estariam fazendo aos terreiros nas favelas, o vereador Átila Nunes Neto e o deputado Átila Nunes entraram em contato com o Gabinete do Governador, pedindo a intervenção enérgica da Secretaria de Segurança. Segundo Átila Nunes Neto, " o assunto se reveste de gravidade por que não se restringe apenas ao cerceamento do exercício do culto. Pior: pessoas que usam simples fitinhas de N.S. Bonfim no pulso, vêm sendo obrigadas a retirá-las, sob a ameaça de que é um símbolo demoníaco."

Em razão das dificuldades encontradas pelos jornalistas em conseguir depoimentos denunciando a situação, Átila Nunes colocou no ar o "Disque Denúncia Intolerância" (21-24610055) que vem recebendo um material importantíssimo para as autoridades, sempre preservando a identidade dos denunciantes. "Independentemente dos pronunciamentos em plenário, estamos nos reunindo as autoridades máximas da Secretaria de Segurança visando traçar uma estratégia que garanta o livre exercício dos cultos religiosos no RJ, particularmente nas comunidades mais simples, como as favelas" - afirmou Átila Nunes Neto, que lembrou que "nesses quase 40 anos de mandato parlamentar de nossa família, enfrentamos - meu avô, meu pai e eu - de tudo. Desde perseguições policiais, passando pelas seitas 'eletrônicas', e agora, as dos traficantes, que já nos mandaram um recado ameaçador."

O vereador carioca lembra que os cultos afros foram perseguidos na época da colonização do Brasil pela Igreja Católica, foram perseguidos pela Polícia até 1960, quando terreiros eram invadidos, médiuns espancados e imagens quebradas, em 1980 os perseguidores passaram a ser os fanáticos das seitas 'eletrônicas' e agora perseguidos por traficantes travestidos de evangélicos os perseguem sob a ameça de armas. "Sobrevivemos a todas essas perseguições. E vamos continuar sobrevivendo, por que nenhum de nós tem medo de ameaças. Vamos mais uma vez à luta em defesa da liberdade religiosa", avisa o vereador Átila Nunes Neto.

domingo, 11 de outubro de 2009

Ateus divulgam Carta Aberta ao presidente Lula

A ATEA (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) divulgou a partir de seu site na internet ( http://atea.org.br ) uma Carta Aberta ao presidente Lula criticando recentes declarações dele sobre a questão religiosa. Na carta, os ateus defendem que "somente um estado verdadeiramente laico pode trazer liberdade religiosa verdadeira, através da igualdade plena entre religiosos de todos os matizes, assim como entre religiosos e não-religiosos de todos os tipos, incluindo ateus e agnósticos".

Veja abaixo a íntegra do documento:

Carta aberta dos ateus ao presidente Lula


Caro presidente


o senhor chegou ao poder carregado pela bandeira de uma sociedade mais justa e mais inclusiva. O uso da palavra "excluídos" no vocabulário das políticas públicas tem o mérito de nos lembrar que as conquistas de nossa sociedade devem ser estendidas a todos, sem exceção. Sim, devemos incluir os negros, incluir as mulheres, incluir os miseráveis, incluir os homossexuais. Mas, presidente, também é preciso incluir ateus e agnósticos, e todos os demais indivíduos que não têm religião.

Infelizmente, diversas declarações pessoais suas, assim como políticas do seu governo, têm deposto em contrário. Ontem mesmo o senhor afirmou que há "muitos" ateus que falam sobre a divindade da mitologia cristã quando estão em perigo. Ora, quando alguém diz "viche", é difícil imaginar que esteja pensando em uma mulher palestina que se alega ter concebido há mais de dois mil anos sem pai biológico. Com o tempo, algumas expressões se cristalizam na língua e perdem toda a referência ao seu significado estrito. Esse é o caso das interjeições que são religiosas em sua raiz, mas há muito estão secularizadas. Se valesse apenas a etimologia, não poderíamos nem falar "caramba" sem tirar as crianças da sala.

Sua afirmação é a de quem vê “muitos” ateus como hipócritas ou autocontraditórios, pessoas sem força de convicção que no íntimo não são descrentes. Nós, membros da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, não temos conhecimento desses ateus, e consideramos que essa referência a tantos de nós é ofensiva e preconceituosa. Todos os credos e convicções têm sua generosa parcela de canalhas e incoerentes; utilizar os ateus como exemplo particular dessas características negativas, como se fôssemos mais canalhas e mais incoerentes, é uma acusação grave que afronta a nossa dignidade. E os ateus, presidente, também têm dignidade.

Duas semanas atrás, o senhor afirmou que a religião pode manter os jovens longe da violência e delinqüência e que “com mais religião, o mundo seria menos violento e com muito mais paz”. Mas dizer que as pessoas religiosas são menos violentas e conduzem mais à paz é exatamente o mesmo que dizer que as pessoas menos religiosas são mais violentas e conduzem mais à guerra. Então, presidente, segundo o senhor, além de incoerentes e hipócritas, os ateus são criminosos e violentos? Não lhe parece estranho que tantos países tão violentos estejam tão cheios de religião, e tantos países com frações tão altas de ateus tenham baixíssimos índices de criminalidade? Não é curioso que as cadeias brasileiras estejam repletas de cristãos, assim como as páginas dos escândalos políticos? Algumas das pessoas com convicções religiosas mais fortes de que se tem notícia morreram ao lançar aviões contra arranha-céus e se comprazeram ao negar o direito mais básico do divórcio a centenas de milhões de pessoas. Durante séculos.

O mundo realmente tinha mais paz e menos violência quando havia mais religião? O despotismo dos soberanos católicos na Europa medieval e a crueldade dos feitores e senhores de escravos no Brasil-colônia vieram de pessoas religiosas em um mundo amplamente religioso que violentava povos e mentes em nome da religião. O mundo não tinha mais paz nem menos violência naquela época, como o sabem muito bem os negros e índios.

Não eram católicos os generais da ditadura contra a qual o senhor lutou, e o seu exército de torturadores? Não haveria um crucifixo nas paredes do DOPS onde o senhor foi preso? A base dos direitos individuais invioláveis pela qual o senhor tanto lutou são as democracias modernas, seculares e laicas, e não os regimes religiosos. Tanto a geografia como a história dão exemplos claros de que mais religião não traz mais paz nem menos violência.

A prática de diminuir, ofender, desumanizar, descaracterizar e humilhar grupos sociais é antiga e foi utilizada desde sempre para justificar guerras, perseguição e, em uma palavra, exclusão. Presidente, por que é que o senhor exclui a nós, ateus, do rol de indivíduos com moralidade, integridade e valores democráticos?

No Brasil, os ateus não têm sequer o direito de saberem quantos são. O Estado do qual eles são cidadãos plenos designa recenseadores para ir até suas casas e lhes perguntar qual é sua religião. Mas se dizem que são ateus ou agnósticos, seus números específicos lhes são negados. Presidente, através de pesquisas particulares sabemos que há milhões de ateus no país, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que publica os números de grupos religiosos que têm apenas algumas dezenas de membros, não nos concede essa mesma deferência. Onde está a inclusão se nos é negado até o direito de auto-conhecimento? Esse profundo desrespeito é um fruto evidente da noção, que o senhor vem pormenorizando com todas as letras, de que os ateus não merecem ser cidadãos plenos.

Presidente, queremos aqui dizer para todos: somos cidadãos, e temos direitos. Incluindo o de não sermos vilipendiados em praça pública pelo chefe do nosso Estado, eleito com o voto, também, de muitos ateus, que agora se sentem traídos.

Presidente, não podemos deixar de apontar que somente um estado verdadeiramente laico pode trazer liberdade religiosa verdadeira, através da igualdade plena entre religiosos de todos os matizes, assim como entre religiosos e não-religiosos de todos os tipos, incluindo ateus e agnósticos. Infelizmente, seu governo não apenas tem sido leniente com violações históricas da laicidade do Estado brasileiro, como agora espontaneamente introduziu o maior retrocesso imaginável nessa área que foi a assinatura do acordo com a Sé de Roma, escorado na chamada lei geral das religiões.

Ambos os documentos constituem atentado flagrante ao art. 19 da Constituição Federal, que veda “relações de dependência ou aliança com cultos religiosos ou igrejas”. E acordos, tanto na linguagem comum como no jargão jurídico, são precisamente isso: relações de aliança. Laicidade, senhor presidente, não é ecumenismo. O acordo com Roma já era grave; estender suas benesses indevidas a outros grupos não diminui a desigualdade, apenas a aumenta. Nós não queremos privilégios: queremos igualdade e o cumprimento estrito da lei, e muitos setores da sociedade, religiosos e laicos, têm exatamente esse mesmo entendimento.

Além de violar nossa lei maior, a própria idéia da lei geral das religiões reforça a política estatal de preterir os ateus sempre e em tudo que lhes diz respeito como ateus. Com que direito o Estado que também é nosso pode ser seqüestrado para promover qualquer religião em particular, ou mesmo as religiões em geral? Com que direito os religiosos se apossam do dinheiro dos nossos impostos e do Estado que também é nosso para promover suas crenças particulares? Religião não é, e não pode jamais ser política pública: é opção privada.

O Estado pertence a todos os cidadãos, sem distinção de raça, cor, idade, sexo, ideologia ou credo. Nenhum grupo social pode ser discriminado ou privilegiado. Esse é um princípio fundamental da democracia. Isso é um reflexo das leis mais elementares de administração pública, como o princípio da impessoalidade. Caso aquelas leis venham de fato integrar-se ao nosso ordenamento jurídico, os ateus se juntarão a tantos outros grupos que irão ao judiciário para que nossa realidade não volte ao que era antes do século retrasado.

Presidente, por tudo isso será que os ateus não merecem inclusão sequer em um pedido de desculpas?